A primeira edição de seu livro Debunking Economics - The Naked Emperor of the Social Sciences foi publicada em 2001.
Uma edição expandida e revisada foi lançada em 2011 (Debunking Economics - Revised and Expanded Edition: The Naked Emperor Dethroned?).
O endereço do website do economista é www.debunkingeconomics.com. Em dezembro de 2005, Steve Keen alertou sobre a eminência de uma grande colapso financeiro mundial em razão do extraordinário
nível de endividamento privado e especulação imobiliária. Com base em seu próprio trabalho teórico de 1995,
sua argumentação foi documentada e publicada em 22 de dezembro de 2005,
podendo ser conferida aqui:
O economista australiano foi agraciado com o prêmio Revere Award for Economics nos EUA por ter feito a melhor e mais precoce previsão e advertência sobre a crise que estaria se formando. Steve Keen recebeu 1.152 votos, mais que o dobro dos votos de seu concorrente mais próximo. Nouriel Roubini com 566 votos pegou o segundo lugar na classificação.
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Steve Keen é um economista pós-Keynesiano. Sua visão, embora baseada nas idéias de John Maynard Keynes, difere da economia keynesiana em diversos aspectos. Os economistas pós-Keynesianos dão grande atenção aos efeitos da moeda e da especulação financeira sobre a economia. Seus estudos da demanda agregada procuram salientar o papel do crédito na criação de dinheiro endógeno pelo sistema financeiro privado, assim como a incerteza dos empresários. Sugere-se que a leitura dada à obra de Keynes pelo modelo IS-LM (Modelo Keynesiano Generalizado, MKG, ou ainda Modelo Hicks-Hansen) não é a mais correta, dado que tem pouco foco no componente da incerteza. Na sua visão, a incerteza merece mais destaque, pois tem influência direta nos componentes da demanda agregada, como o consumo e o investimento. Mudanças no endividamento do setor privado são consideradas um componente fundamental na demanda agregada. Ao contrário da visão neo-clássica convencional, que vê o crédito como um sistema de soma zero, onde as dívidas de alguns (gastos financiados por empréstimos) correspondem à poupança de outros (que deixaram de gastar, viabilizando o crédito). Em nosso texto de 2011 sobre alavancagem e desalavancagem (leia aqui) já falávamos a respeito do efeito multiplicador do dinheiro através do crédito. Faremos abaixo uma breve tentativa de expor como Steve Keen coloca isso em suas palestras. A Demanda Agregada corresponde aos gastos com consumo e investimentos, menos aquilo que se poupa. A fórmula abaixo é básica: Rendimentos - Gastos = Mudança na Poupança Líquida
ou Gastos = Rendimentos - Mudança na Poupança Líquida
como (Gastos = Demanda Agregada) e (Mudança na Poupança Líquida = inverso da Mudança no Endividamento Líquido), então: A mudança será somada (+) quando houver Aumento no Endividamento Líquido (Alavancagem). No caso de um Aumento na Poupança Líquida (= Redução no Endividamento Líquido, ou Desalavancagem), a mudança será subtraida (-). Já os Rendimentos incluem os salários, recebimento de aluguéis e outras fontes de renda, como lucros realizados em investimentos e negócios. Demanda Agregada = Rendimentos + Mudança no Endividamento LíquidoAquilo que você gasta é a soma do que você ganha mais aquilo que você toma emprestado (ou menos aquilo que você poupa, deixando de gastar). Se você gastou R$ 5.000 com um rendimento de apenas R$ 4.000, então tomou emprestado e endividou-se em R$ 1.000. Mas se gastou R$ 3.200 e ganhou R$ 4.000, então seu "Aumento Líquido do Endividamento" foi negativo (-800), pois na verdade você poupou R$ 800. O mais relevante nos estudos de Keen é o endividamento do setor privado! Mais abaixo isso ficará ilustrado na comparação entre endividamento público e privado e a correlação com outros indicadores econômicos. Lei de Walras-Scumpeter-Minsky Numa economia envolvendo crédito, a demanda agregada: Demanda Agregada consiste em: A lei de Walras-Scumpeter-Minsky:
fonte
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onde: Rotatividade Líquida dos Ativos = (Preços dos Ativos x Quantidade dos Ativos x Fração de Rotatividade dos Ativos) Demanda Agregada = Oferta Agregada, logo: Em um ano, a mudança na demanda agregada será igual à mudança nos rendimentos nesse tempo, somada à mudança na mudança (aceleração) do endividamento líquido no período.
Assim:
A aceleração do endividamento líquido tem impacto sobre os preços dos ativos. A aceleração positiva do endividamento (alavancagem) tende a aumentar os preços dos ativos (valorização).
Quando o nível de endividamento líquido sobe ou desce lentamente em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), seu impacto sobre a Demanda Agregada é pequeno; por outro lado, se a alteração em relação ao PIB for significativa, o impacto sobre a demanda agregada também será. Se o nível de endividamento líquido total estiver em 25% do PIB do país, e houver uma inadimplência de 2% dos empréstimos, o impacto sobre o PIB será de 2% de 25%, igual a 0,50% do PIB. Da mesma forma, quando o nível de endividamento chega a 200% do PIB, uma inadimplência de 2% equivale a 4% do Produto Interno Bruto (2% x 200% do PIB). Uma taxa que certamente provocará uma recessão. Mesmo quando os devedores pagam e encerram suas dívidas, se deixarem de contrair novos empréstimos, isso diminuirá o endividamento líquido total e refletirá negativamente na demanda agregada, proporcionalmente à relação dívida/PIB.
Quanto maior for o nível do endividamento da economia, mais sensível ela será a qualquer mudança nesse endividamento, e maior a propensão para instabilidades e bolhas geradas pelo crédito. Amortizações das dívidas, calotes, reduções na oferta ou procura por crédito e aumento da poupança geram um recuo no endividamento líquido privado, e como tal, repercutem negativamente na demanda agregada, que estimula ainda mais os calotes, reduzindo mais o crédito e incentivando a poupança... Cria-se um círculo vicioso. Hyman Minsky, economista pouco divulgado antes da crise de 2008, já em meados do século XX, alertava sobre a tendência do setor financeiro para gerar grandes instabilidades através do ciclo de crédito. E Steve Keen ressalta, em seu próprio trabalho, a importância e influência do legado de Minsky. O setor financeiro inclui boa dose de incertezas na tomada de decisões. Basicamente tratam de adiantamentos de dinheiro hoje em troca da promessas de dinheiro no futuro. Esses negócios obedecem um ciclo. No estágio inicial de incerteza econômica, os empréstimos são feitos de forma bastante prudente. Com a consequente expansão da economia, a concorrência entre instituições financeiras vai se acirrando e a precaução na oferta de empréstimos vai cedendo. A competição por maiores lucros e uma maior fatia do mercado gera empréstimos cada vez menos cuidadosos. Durante essa expansão econômica, o valor das garantias (ex: imóveis) está subindo, o que contribui para uma maior oferta de crédito. Alguns empréstimos mais arriscados começam a ser concedidos a quem mal tem condições de pagar os juros, muito menos parte do principal. Se uma instituição financeira se preocupa com o crescente número de empréstimos duvidosos e resolve tomar uma atitude mais defensiva e responsável, ela estará diante de um sério dilema, pois, se a economia continuar se expandindo por muito tempo, ela será deixada para trás pela concorrência e sua prudência terá lhe custado caro. Do ponto de vista da concorrência dentro do setor financeiro, vale a pena tentar surfar na onda pelo maior tempo possível. Como no jogo das cadeiras, só quando a música acaba é que todos procuram se sentar. O crédito então diminui enquanto a inadimplência aumenta. O aumento nas ofertas de bens diante de uma retração no consumo diminui o valor de mercado dos mesmos. Com a queda dos preços, muitos devedores se vêem diante de dívidas sobre um bem financiado em franca desvalorização. O colapso do valor dos ativos gera um ciclo autodestrutivo, cujo início se deu pelo maior apetite por risco e market-share do setor financeiro. A tendência então será de um transbordo deflacionário. O economista Irving Fisher (falecido em 1947) já havia escrito um trabalho importante sobre a relação entre endividamento e deflação. Caso o governo não intervenha garantindo dinheiro para o setor financeiro e, por tabela, para a economia como um todo, a crise se retroalimentará em uma espiral cada vez pior. O menor envolvimento inicial do governo no setor financeiro, através de regulamentação frouxa, acaba por induzir a um posterior socorro governamental. Sem a intervenção do governo e do banco central a crise contaminará todos os demais setores da economia. Na ausência de uma regulamentação eficiente, o socorro do governo induz ao risco moral, já que as instituições financeiras passam a ser menos cuidadosas, mais tolerantes a risco, especulação e formação de bolhas. Enquanto a bolha cresce, bônus e lucros ficam para executivos e acionistas, e quando estoura, os prejuízos são arcados pelo governo e os contribuintes: ou seja, privatização dos lucros e socialização dos prejuízos. A falta de regulamentação criou um grande conflito interno para os próprios CEOs das instituições financeiras. Havia o risco desses financiamentos em pirâmides desabarem a qualquer momento, mas a adoção de uma atitude prudente e diferente por qualquer um deles, se não acompanhada pelos seus pares, significaria a perda de uma grande fatia de mercado. Em seu livro, "On The Brink", Henry Paulson ilustra a agonia do CEO do Citygroup, Chuck Prince, indagando se, dadas as pressões competitivas, não haveria a necessidade de autoridades reguladoras intervirem coibindo aquele comportamento de alto risco dentre todas as instituições concorrentes. E Mohamed El-Erian, no seu livro "When Markets Collide", novamente aponta que o mesmo Chuck Prince, CEO do Citygroup, em uma entrevista de capa ao Financial Times de 10-jul-2007, declarou que "quando a música parar, em termos de liquidez, as coisas vão se complicar. Mas enquanto a música estiver tocando você tem de levantar e dançar. Nós ainda estamos dançando." Anos atrás, o Banco da Inglaterra e o Financial Services Authority indagaram aos banqueiros por que os testes de stress em seus bancos não tinham considerado a probabilidade de uma quebra real. Teria sido devido à miopia do desastre ou a incapacidade de avaliar os perigos de contágio? Um dos participantes respondeu que não se tratava disso. Na verdade, os departamentos de risco não tinham incentivo algum para simular desastres genuínos. Se o fizessem, os simuladores provavelmente perderiam seus bônus e talvez até seus empregos. Além disso, se tais desastres viessem a acontecer, as autoridades públicas iriam intervir para socorrer os bancos. Andrew Haldane, CEO para a estabilidade financeira do Banco da Inglaterra disse que ao ouvirem a confissão do colega, todos os outros banqueiros presentes desviaram seus olhos para baixo, como se estivessem examinando os próprios sapatos. A história mostrou que a resposta daquele banqueiro estava correta: quando a crise de fato estourou, os bônus sumiram e o governo rapidamente veio socorrê-los. Em 1999, Alan Greenspan, então presidente do Banco Central dos EUA, exerceu sua influência para derrubar a regulamentação de Glass-Steagall, que se mostrava eficiente desde 1933. Seu argumento era que a regulamentação governamental limitava a competitividade dos bancos norte-americanos, além disso, a própria concorrência iria incentivar um maior autocontrole e uma vigília recíproca mais eficiente entre os bancos. Entretanto, essa desregulamentação, associada à política de juros baixos de Greenspan, ajudaram a provocar aquela que seria a maior crise econômica mundial depois do crash de 1929. Seria de se supor que o Banco Central e o governo dos EUA abraçariam uma volta à regulamentação de Glass-Steagall. Escrita em apenas 37 páginas, ela ajudou a produzir estabilidade financeira durante sete décadas. Porém, o lobby financeiro em Washington mostrou-se bastante ativo. O recente decreto Dodd-Frank Wall Street Reform and Consumer Protection Act (http://www.sec.gov/about/laws/wallstreetreform-cpa.pdf) tem 848 páginas complexas e confusas que exigirão das entidades reguladoras a elaboração de outros documentos adicionais, com regras mais pormenorizadas. Ao todo, a nova legislação deverá totalizar umas 30 mil páginas. Tanta complexidade não se refletirá necessariamente em maior eficiência. Pelo jeito, os supermercados financeiros continuarão existindo, grandes demais para falir. As consolidações no setor financeiro aumentaram seus tamanhos e diminuíram sua quantidade, causando uma concentração ainda maior. O perigo que representam para a economia no caso de novas crises bancárias é preocupante. Daí a importância de conhecermos o trabalho de economistas como Steve keen, Hyman Minsky e Irving Fisher. |
Os traçados abaixo foram feitos por De Olho Na Bolsa com auxílio dos dados e do sistema gráfico do Banco Central dos EUA. |
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A mudança na Dívida Privada
tem uma relevante correlação com outros indicadores econômicos (causa).
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mudança na Dívida Pública (pontilhado fino ...)
e mudança na Dívida Privada (Trilhões de US$) ambas com base nos valores nominais X índice Dow Jones (ajustado em escala: DJIAx600000000) com base nos valores nominais fonte |
mudança na Dívida Pública (pontilhado fino ...)
e mudança na Dívida Privada (Trilhões de US$) ajustadas pelo deflator do PIB para dólares de 2005 X índice Dow Jones (ajustado em escala: DJIAx500000000) ajustado pelo deflator do PIB para dólares de 2005 fonte |
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mudança na Dívida Pública (pontilhado fino ...)
e mudança na Dívida Privada (% em 12ms) X mudança no Emprego Privado (ajustado em escala: EPx5) fonte |
mudança na Dívida Pública (pontilhado fino ...)
e mudança na Dívida Privada (% em 12ms) X Desemprego Privado invertido (ajustado em escala: 1/DPx66) fonte |
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mudança na Dívida Pública (pontilhado fino) e mudança na Dívida Privada ajustadas pelo índice de preços ao consumidor (% em 12ms) X índice Dow Jones ajustado pelo índice de preços ao consumidor (ajustado em escala: DJIA/CPI/2.7) X Desemprego Privado invertido (ajustado em escala: 1/DPx66) fonte |
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aceleração na Dívida Pública (pontilhado fino) e aceleração na Dívida Privada ambas em relação ao PIB (% em 12ms) X mudança no índice Dow Jones (% em 12ms ajustada em escala: DJIA/3) fonte |
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aceleração na Dívida Pública (pontilhado fino) e aceleração na Dívida Privada (% em 12ms) deflacionadas pelo deflator do PIB X mudança no PIB (% em 12ms) deflacionado pelo deflator do PIB fonte |
Um olhar rápido sobre essa relação entre dívida privada e demais indicadores econômicos e poderíamos cair na tentação de achar que o melhor é estimular novamente o crédito, permitindo a continuidade do consumo em grande escala e alavancagem. A questão é que a situação é insustentável. Por melhor que pareça a festa, não existe banquete ad infinitum e ninguém se banqueteia ad aeternum. E, no final, a conta sempre chega! Em algum momento, alguém terá de pagá-la. O futuro é hipotecado. O gráfico abaixo mostra que apesar de o endividamento privado ter mostrado um recuo (desalavancagem) desde seu pico no auge da crise em 2008, quatro anos depois ele ainda se encontra acima do pico da crise da década de 1930. Mantendo-se o ritmo atual, a desalavancagem terá ainda um longo percurso pela frente. Steve Keen calcula que, se não alterado o ritmo, a dívida privada possivelmente só recuará ao nível de 75% do PIB norte-americano por volta de 2027. Leia mais sobre o endividamento em: Um Novo Rumo e em Alavancagem Econômica Abaixo seguem alguns vídeos com palestras de Steve Keen. E em outra página (clique aqui) estão disponíveis algumas aulas do economista. |
Steve Keen em palestra para congressistas dos EUA, 5/dez/2012:
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Palestra em Berlim, 2012: Instabilidade nos Mercados Financeirosacesse o texto abordado na palestra acima: texto -Berlim, 2012- Steve Keen acesse os slides projetados na palestra: slides -Berlim, 2012- Steve Keen
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- - - - Ouça outra palestra sobre macroeconomia em Cambridge, 2012 - áudio em MP3 - - - - |
Palestra para um grupo de economistas no
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Para ver mais vídeos, com aulas de Steve Keen, clique aqui.