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Demografia, Economia e Mercados Financeiros
Sebastião Buck Tocalino, 9 de setembro de 2011

"A relação entre economia e demografia não é, efetivamente, muito percebida pela maior parte dos economistas, haja vista que poucos são os cursos que mantém a demografia como disciplina obrigatória. A rigor, uma das poucas vezes que o tema é abordado na maior parte dos cursos ocorre quando, na cadeira de História do Pensamento Econômico, estuda-se a contribuição do economista clássico Thomas R. Malthus e seu alerta para o risco de explosão demográfica. No entanto, a demografia trata de aspectos que têm profunda importância para a economia, razão pela qual esse desinteresse relativo não pode deixar de provocar certa preocupação."
(texto de Luiz Machado, 10/jun/2008, extraído do site do Conselho Federal de Economia) fonte

Uma visão de alguns fundamentos importantes que merecem ser considerados:

A economia interna de um país não pode ser isolada da economia global. Os Estados Unidos e a Europa têm grande participação no Produto Interno Bruto mundial.


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Juntos, EUA e União Européia correspondem a cerca da metade do PIB mundial.

Vejamos então algumas características do Produto Interno Bruto dos Estados Unidos da América:


1- os gastos de CONSUMO PESSOAL respondem por cerca de 70,5% do PIB dos EUA;
2- o investimento privado, de 12,6% em 2010, vem diminuindo (veja o próximo gráfico);
3- o governo contribuía com 20,5% do PIB (mas o congresso pressiona por uma redução);
4- a exportação líquida é negativa: EUA importam de outros países mais do que exportam (outros países dependem desse mercado norte americano para vender seus produtos).


E nesse CONSUMO PESSOAL, tão importante para o Produto Interno Bruto dos Estados Unidos, qual faixa etária contribui com o maior peso?

Dados do Bureau of Labor Statistics dos EUA indicam que, estatisticamente, indivíduos atingem o pico de gastos em consumo entre seus 45 e 50 anos de idade. Em média, aos 48 anos.




Em média, as pessoas atingem um pico nos gastos de consumo aos 48 anos de idade.

O pico de consumo associado ao mercado imobiliário, visto a seguir, é próximo desses 48 anos.


Também existem estudos relacionando as idades médias aos padrões de ciclo e pico de consumo específicamente para outros produtos e serviços. Mais tarde voltaremos a ver alguns exemplos. Por hora, o importante é que o pico de gastos gerais do americano ocorre por volta dos 48 anos de idade.

Agora olhemos alguns números históricos da população nos Estados Unidos.

Os motivos?
- A economia dos EUA conta com boa distribuição de renda e tem foco no alto consumo doméstico.
- Um maior número de consumidores em pico deve estimular um maior dinamismo na economia.
- Um menor número de consumidores mais ativos sugere um menor dinamismo econômico.

Tomaremos aqui os dados do censo norte americano do ano de 1950 e faremos uma rápida comparação com o desempenho do mercado.


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Desempenho histórico do índice Dow Jones Industrial Average descontando a inflação:

djia Fed

É razoável deduzir que o ciclo econômico deve ter alguma relação com o ciclo demográfico. Possivelmente associado aos índices de nascimentos, já ajustados para incluir os imigrantes, mas com atraso de 48 anos.

Crescimento populacional nos EUA: nascimentos ajustados para imigração

Nos EUA, entre os anos de 1934 e 1961, houve uma explosão de nascimentos sem precedentes. Os ciclos de nascimentos anteriores ou posteriores não se comparam à magnitude deste Baby-Boom.


dados     pop
(uma explosão demográfica também ocorreu na Europa, mais ou menos na mesma época)

Veja novamente os dois últimos gráficos acima... Notou alguma semelhança entre os padrões de ambos?

Observe melhor agora esses dados históricos em sobreposição:

Projetamos o boom de nascimentos ajustados para a imigração nos EUA para 48 anos depois, assim pudemos obter esses indivíduos já no auge do consumo (segundo as estatísticas do Bureau of Labor Statistics dos EUA).

Para uma comparação, adicionamos o índice Dow Jones já ajustado pela inflação (CPI = consumer price index):

A semelhança entre os padrões de ambos os gráficos fica bem evidente (talvez ainda >mais se descontado o ataque terrorista que derrubou o World Trade Center em 2001).

Um número maior de consumidores na faixa etária mais ativa favorece uma expansão da economia.
Já um declínio em consumidores nessa faixa etária, pelo contrário, tende a uma contração econômica.

O declínio em nascimentos a partir de 1961, defasado em 48 anos, quase coincide com a crise de 2008.

Façamos ainda outra especulação usando o censo norte americano do ano 2011:

 

Nos países da Europa, o perfil etário da população passa a ser ainda mais crítico:
(generalizamos para outros países a faixa de idade verificada nos EUA para o pico em gastos)

Alemanha tem bons motivos para se esforçar na defesa do Euro como moeda comum européia. A volta a uma moeda forte como o Marco seria prejudicial às exportações, e no mercado interno deverá faltar dinamismo devido ao menor número de consumidores em idade de pico nos gastos.

A economia da Alemanha é bastante orientada para as exportações. Cerca de um terço da sua produção é vendida para os outros países. Isso deve diminuir a correlação entre a sua própria demografia (consumo doméstico) e o desempenho econômico medido pelo mercado de ações.








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Os desafios que os governos da Europa têm pela frente são enormes. A falta de jovens para gerar maior consumo e dinamismo na economia deverá dificultar muitas das políticas de combate à crise.

Dentre os países mais desenvolvidos, talvez haja algum alívio para o Japão, depois de duas décadas já perdidas. Se houver, não será por muito tempo.


As questões de desvalorização imobiliária, crise do subprime, dívidas soberanas e outros problemas atuais são, ou reflexos, ou agravantes de uma história anunciada faz tempo pelos dados demográficos.


Mudança de perfil dos Estados Unidos da América e Europa: os países mais desenvolvidos estão ficando mais velhos.

Indivíduos com mais de 50 anos costumam ser cautelosos nos gastos e conservadores nos investimentos, uma vez que se preocupam mais com a aproximação da terceira idade. Acima dos 65 anos, reduzem ainda mais o consumo e deixam de contribuir com novos investimentos, já que, na maior parte das vezes, não estão mais no mercado de trabalho e não recebem mais salário.

Note a mudança nos padrões de consumo em dois exemplos bastante marcantes:

Após os 50 anos, em média, gastos com medicamentos e produtos farmacêuticos se aceleram.


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Nesta idade, gastos com gasolina invertem a tendência e começam a diminuir acentuadamente.


Dado que o consumo de gasolina nos EUA é o maior do mundo, seguido pela Europa, isso talvez ajude a conter o preço do petróleo, apesar da iminência de um pico na produção mundial e da crescente demanda na China, Índia e demais países emergentes. (WTI bruto era cotado a US$ 91 em 9/9/2011, data deste texto)

DADOS ATUALIZADOS em :

petróleo nos EUA

Confira também estes artigos:
* Petrobras e Petróleo em Retrospectiva ;
* Manchas de Óleo na Fé e as Máculas da Fé no Óleo ;


Em crise de demanda, a ameaça de deflação torna-se mais preocupante e temível que uma inflação.

Aparentemente os bancos centrais estão bem cientes disso, vencendo receios de aumentar o meio circulante (imprimindo dinheiro) e mantendo os juros baixos (lá fora) de forma persistente por anos.

EUA Base monetária ajustada nos Estados Unidos da América: (gráfico atualizado)



EUA Taxas de juros dos Fed Funds nos EUA: (gráfico atualizado)



Um cenário de deflação teria efeito ainda mais paralisante na economia, uma vez que muitos gastos seriam adiados e as dívidas seriam comparativamente "infladas", se tornando mais pesadas perante a desvalorização dos bens. Calotes e falências se tornariam mais frequentes e comprometeriam uma série de instituições financeiras. A chance de extinção de algumas delas seria bastante considerável.

EUA Inflação e deflação nos Estados Unidos da América: preços ao consumidor comparados ao ano anterior


EUA Inflação e deflação nos Estados Unidos da América a partir de 1913: (gráfico atualizado)

Inflação e Deflação nos EUA (desde 1913)


Notícia de 9 de setembro de 2011 no Yahoo Finanças:

Os riscos de queda no crescimento em todo o mundo aumentaram, afirmou hoje a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde. "A verdade é que a atividade global tem se desacelerado, os riscos de queda aumentaram e, ao mesmo tempo, o reequilíbrio na demanda que todos nós estávamos esperando para chegarmos a um crescimento sustentável se interrompeu". O mundo está sofrendo com uma crise de confiança, em face a uma deterioração nas previsões econômicas e os crescentes receios com dívidas soberanas e a saúde dos bancos. Se o crescimento continuar a perder força, os problemas com balanços patrimoniais vão piorar, a sustentabilidade fiscal será ameaçada e o espaço para políticas para salvar a economia vai desaparecer. Lagarde afirmou que "o risco de recessão supera o risco de inflação".


A chanceler alemã, Angela Merkel, também disse em sua página na internet, que "será, com certeza, necessária mais uma década para que a Europa esteja melhor".
fonte: http://www.redeclipex.com.br/painel/p_exibenoticia.php?idpainel=6119&idnoticia=000000022507

Se assim for, talvez tenhamos uma estagnação ou contração mais duradoura, estendendo-se por um período mais longo do que os já observados pelos atuais participantes do mercado. Um cenário mais favorável nos EUA poderá vir provavelmente com um crescente número de consumidores na faixa etária de pico nos gastos, algo que deve levar ainda alguns anos (brevemente a partir de 2015 ou 2017, e com maior vigor a partir de 2022 ou 2024).



Conforme frisamos, as estatísticas usadas se referem aos Estados Unidos da América. Contudo, a economia norte americana tem um impacto global considerável. É improvável que uma queda na atividade econômica lá não cause contágio e perturbações nos mercados emergentes, por melhor que as contas ou o perfil demográfico desses países se apresentem.

Lembremos que, ter as próprias bases demográficas favoráveis ao consumo interno, ajuda pouco um país emergente que seja exportador líquido. Sua exportação depende do consumo estrangeiro. A sua própria população não tem um poder aquisitivo suficiente para compensar a redução de suas exportações. Aliás esse poder aquisitivo pode ficar ainda menor, com a queda nas vendas ao exterior.

Brasil e China são países emergentes exportadores líquidos:





A Alemanha é um país bem desenvolvido e exportador líquido.



Devemos observar ainda que os produtos industrializados exportados pela Alemanha e China têm um maior valor agregado do que as commodities exportadas pelo Brasil.

Estados Unidos: o país é bem desenvolvido e um importador líquido.


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A economia dos EUA, importadores líquidos, tem seu foco no alto consumo doméstico.

clique aqui para ver mais
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A curva demográfica para o pico de consumo parece funcionar bem para a economia norte americana, pois a população, de forma bem mais distribuída, já atingiu um bom poder aquisitivo, e sua economia está mais lastreada ao consumo interno. Uma população numerosa, quando a grande maioria desta tem baixo poder aquisitivo, não representaria tão bem a economia de um emergente exportador.

Em 2007, 62% dos domicílios nos EUA apresentavam uma renda mensal acima de US$ 3.125,00 dólares: (US$ 37.500,00 anuais, ou U$ 3.125,00 mensais)

distribuição de renda nos EUA (fonte: Wikipedia)
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Entre 2008 e 2009, apenas 9% dos domicílios brasileiros apresentavam uma renda mensal semelhante: (no entanto, muitos dos bens de consumo como veículos, combustíveis e eletrônicos são mais caros aqui, e o ensino básico das nossas escolas públicas não se apresenta como uma boa opção para essas famílias)

distribuição de renda no Brasil (fonte: IBGE)
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A pirâmide populacional do Brasil seria enganosa em razão do baixo poder aquisitivo da maioria, por esse motivo não foi incluída aqui. O mesmo pode ser dito para a China.

Em momentos positivos da economia global, os emergentes podem mostrar melhor desempenho que os países desenvolvidos. Mas essa menor 'massa inercial' dos mercados emergentes, que favorece altas expressivas nos bons momentos, torna-os também mais predispostos a guinadas e desacelerações rápidas e brutais em situações de maior insegurança. Também vale lembrar que os países desenvolvidos já têm uma base mais robusta em toda infraestrutura e educação, fatores atenuantes que faltam ser desenvolvidos em emergentes como o Brasil. Sem falar nas reformas tributárias e trabalhistas, tão necessárias para nosso maior dinamismo e resiliência.


Acreditamos que estudos de curvas e perfis demográficos, apesar de não serem absolutamente determinantes, tenham indiscutível relevância para as projeções econômicas, portanto devem ser conhecidos pelos investidores que procuram minimizar os riscos em qualquer tipo de investimento.

A perspectiva do potencial mercado consumidor é importante para quem quer iniciar qualquer negócio.

Copyright © Sebastião Buck Tocalino

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